A raiva do que não temos nada a ver

20:58

A facilidade ao acesso da informação tem revelado opiniões chocantes de onde a gente menos espera. Mas não obrigatoriamente pelo acesso fácil, e sim pela necessidade que todo mundo tem hoje em dia de manifestar a sua opinião. As plataformas digitais gratuitas estão aí pra isso e o desejo de ser notado faz com que muita gente libere suas verdades sem se importar com quem vai ler.

Política, economia, comportamento, cultura ou apenas a vida do outro, a gente sempre tem uma teoria para justificar os erros alheios e apontar o dedo para o que consideramos fora do padrão. O problema de tudo isso é que quem se manifesta nem sempre está preocupado com a verdade, seja ela qual for. A discordância aflora sentimentos ruins e, como consequência, faz anular a possibilidade de qualquer bom senso ou autocrítica.

A teoria da comunicação estuda um fenômeno chamado Gatekeeper. Esse fenômeno refere-se ao processo de produção e seleção de notícias. De forma prática, é a figura do Gatekeeper - jornalista - que decide o que se transformará em fato ou acontecimento noticiado, ou se será simplesmente descartado. Eu, enquanto jornalista, percebo que, se essa teoria ainda não desandou, está em processo de desintegração.

Hoje, não existe mais um "guardião do portal". A imprensa já não dita tudo o que vai ser notícia. O caminho agora é inverso: das rodas de amigos para os meios de comunicação. Uma prova disso são os protestos prós e contra o governo; os debates sobre a sexualidade e homossexualidade; a utilização indevida da privacidade das pessoas. Vivemos em um tempo em que um erro de português ou apenas uma baunilha de Madagascar se transforma em hecatombes midiáticos.

A verdade é que - e aqui ouso dizer o que é verdade mesmo -, se notícia boa já é difícil de encontrar no mercado, enquanto todo mundo não aprender a tomar conta apenas das suas vidas, estaremos rodeados de falsas verdades, cultivando raivas e esquecendo o básico: o bom senso. 

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